Pequeno esboço para um teoria crítica da empatia [parte 2]

Tulio Custódio
2 min readSep 17, 2018

A começar por W. Benjamin, que em 1940 (Sobre o Conceito de História) diz:

"A tradição dos oprimidos nos ensina que o “estado de exceção” em que vivemos é na verdade a regra geral."

Como estabelecer a ponte, a conexão em nível do sujeito, para indivíduo, com a noção implicada de sujeito desumanizado? Como ser empático com a dor acerca de um processo para Outro, no qual a dor ali recebe outros sentidos de normalidade, de aceitação?

A discussão sobre empatia precisa ser recheada de consideração sobre questões gramaticais acerca do ideal de ser, de indivíduo.

Gosto dessa passagem em Benjamin,

"A natureza dessa tristeza se tornará mais clara se nos perguntarmos com quem o investigador historicista estabelece uma relação de empatia. A resposta é inequívoca: com o vencedor. Ora, os que num momento dado dominam são os herdeiros de todos os que venceram antes. A empatia com o vencedor beneficia sempre, portanto, esses dominadores. Isso diz tudo para o materialista histórico. Todos os que até hoje venceram participam do cortejo triunfal, em que os dominadores de hoje espezinham os corpos dos que estão prostrados no chão. Os despojos são carregados no cortejo, como de praxe. Esses despojos são o que chamamos bens culturais. (…) Pois todos os bens culturais que ele vê têm uma origem sobre a qual ele não pode refletir sem horror. Devem sua existência não somente ao esforço dos grandes gênios que os criaram, como à corvéia anônima dos seus contemporâneos. Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie. E, assim como a cultura não é isenta de barbárie, não o é, tampouco, o processo de transmissão da cultura."

Porque ela lembra o trivial: a receita do que se cria como solução, é a receita que considera problema, solução, remédio e língua (na qual a receita está construída) na perspectiva histórica do vencedor.

Assim, sem mais nem menos, o indivíduo empático é o mesmo que pode pular corpos. Assim, sem mais ou mais ainda, é um indivíduo, nos termos e falas daqueles que podem decidir e se estabelecer. A empatia se torna, nessa gramática, arma (e a palavra diz muito) de reconhecimento do apreensível, do possível. E o estabelecer democrático do impossível? E a inserção dos elementos não computáveis a partir de uma experiência própria, e determinada de humanidade — porque esta está informada e estruturada, em suas linhas de codificação histórica, nas linhas de morte, na "<! — //>" do comando de anulação.

A violência não está no adjetivado da "Comunicação Não-Violência", mas na gramática entre com quem se pode dialogar. O sopro da palavra, enunciada, que transforma vidas e as reconhece. Ou as anula. No silêncio empático.

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Tulio Custódio

Sociólogo, Sócio e Curador de Conhecimento na Inesplorato. Mais: about.me/custodta ;)